Ceará Acontece: VIVER BEM A SEMANA SANTA

quarta-feira, 12 de abril de 2017

VIVER BEM A SEMANA SANTA

Por Dom Pedro Brito Guimarães

A Semana Santa, para nós cristãos, é a semana mais importante do ano. Como bem diz o nosso povo: “estamos vivendo os dias grandes”. Esta Semana é grande porque nela celebramos o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nesta Semana Deus manifestou todo o seu amor pela humanidade e por cada um de nós. Com o apóstolo Paulo, cada um de nós pode dizer: “Ele me amou e se entregou por mim” (cf. Gl 2,20).

A Semana Santa, que ora iniciamos, pode ser considerada um manual de instruções para o cristão. Jesus pediu a seus discípulos que preparassem, com todo esmero, a sua Páscoa e, com isso, nos ensina hoje a fazer o mesmo. Vamos ler e meditar juntos o relato dos preparativos da Páscoa de Jesus?

Assim descreve o evangelista Marcos: “No primeiro dia dos ázimos, quando se imolava a Páscoa, os seus discípulos lhe disseram: ‘Onde queres que façamos os preparativos para comeres a Páscoa?’. Enviou então dois dos seus discípulos e disse-lhes: ‘Ide à cidade. Um homem levando uma bilha d’água virá ao vosso encontro. Segui-o. Onde ele entrar, dizei ao dono da casa: ‘O Mestre pergunta: Onde está a minha sala, em que comerei a Páscoa com meus discípulos?’ E ele vos mostrará, no andar superior, uma grande sala arrumada com almofadas. Preparai-a ali para nós”! (Mc 12b-15).

O apóstolo Paulo, por sua vez, lembra aos cristãos da comunidade de Coríntios para não celebrarem a Páscoa com o fermento da malícia e da perversidade (cf. 1 Cor 5,8). Não é esta uma orientação segura também para nós hoje? É triste constatar que muitos cristãos hoje vivem a Semana Santa com certa frieza e até na indiferença. A Semana Santa para nós, discípulos de Jesus, não é uma espécie de “carpe diem” (um aproveitar o hoje). Não é tempo para passear, pescar, se divertir, curtir a vida, relaxar, espairecer – como se fosse um feriadão. Assim como os discípulos de Jesus, também nós hoje devemos nos preparar bem para passar esses dias grandes na sua companhia. Há cristãos que parecem ter escolhido viver uma quaresma sem Páscoa. Contentam-se em celebrar uma Páscoa de aparência, sem graça, sem vida e sem passagem da morte para a vida. O bom cristão deve dizer com os cristãos de Abitine: “sem Eucaristia não podemos viver”. Parafraseando, “sem Semana Santa não podemos viver”. Onde, como e com quem vamos celebrar a Semana Santa deste ano de 2017?

Vejamos, então, os ensinamentos e as instruções que a Santa Mãe Igreja nos proporciona na Semana Santa através de sua liturgia:

O Domingo de Ramos é o grande portal de entrada na Semana Santa, a Semana em que Jesus caminha até ao ponto culminante da sua existência terrena. Ele sobe a Jerusalém para dar pleno cumprimento às Escrituras e ser pregado no lenho da cruz, o trono donde reinará para sempre, atraindo a Si a humanidade de todos os tempos e oferecendo a todos o dom da salvação. A liturgia deste Domingo inicia-se com a bênção dos ramos e a procissão que comemora a entrada triunfal de Jesus na Cidade Santa de Jerusalém, na qual é acolhido como Rei. Na liturgia Eucarística, o Evangelho proclamado é a narrativa da Paixão do Senhor. Somos convidados a entrar com Jesus no mistério de sua paixão e aquecer o nosso coração com o amor que não tem fim, o amor de Deus por nós. O ensinamento deste dia é que devemos acolher Jesus em nossa vida, nos deixar atrair pela força do seu amor e trilhar o caminho alto que nos conduz a Deus.

Na Quinta-Feira Santa inicia-se o Tríduo Pascal com a solene celebração da Ceia do Senhor. O mistério Pascal é o mistério central da vida cristã. Unidos a Jesus Cristo na sua Paixão, Morte e Ressurreição, podemos também nós viver santamente nossa paixão, morte e ressurreição. Neste dia Jesus instituiu o grande dom da Eucaristia e do sacerdócio ministerial. Também neste dia Jesus lavou os pés de seus apóstolos e nos deixou o mandamento do amor, nos ensinando, deste modo, a unir em nossas vidas, Eucaristia e serviço em favor dos irmãos. Quem se senta à mesa da Eucaristia não tem o direito de desprezar os pobres e marginalizados, nos quais Jesus se faz particularmente presente (cf. (Mt 25,31-46).

A Sexta-Feira Santa é um dia inteiramente centrado na cruz e na morte de Cristo. Não se celebra a Eucaristia neste dia. A principal celebração deste dia é a celebração da Paixão que, é, fundamentalmente, uma ampla celebração da Palavra que culmina com a adoração da cruz e termina com a comunhão eucarística. Não é dia de luto pela morte de Jesus. É a morte do Ressuscitado que celebramos, motivo pelo qual falar de luto é inadequado. É também dia de jejum e abstinência. Somos convidados e contemplar o mistério da morte de Jesus como mistério de amor infinito por nós. Neste dia “o Verbo emudece, torna-se silêncio de morte, porque se disse até calar, nada retendo do que nos devia comunicar. Está sem palavra a Palavra do Pai, que fez toda criatura que fala; sem vida estão os olhos apagados d’Aquele a cuja palavra e aceno se move tudo o que tem vida” (Papa Emérito Bento XVI, Verbun Domini, 13).

O Sábado Santo é considerado o dia do silêncio litúrgico. A Igreja permanece em comunhão com o seu Senhor que repousa no sepulcro. Por isso, neste dia não se celebra nenhum sacramento. O grande símbolo deste dia é o Círio Pascal que entra solenemente no início da Vigília Pascal, simbolizando Cristo, Luz do mundo, que dissipa as trevas do pecado. Na liturgia da Palavra a Igreja proclama as maravilhas operadas por Deus na história da salvação, começando pela criação do mundo e passando pela libertação da escravidão do Egito. Maravilhas de todas as maravilhas é a Ressurreição de Cristo. Esta é a noite da nova criação, do novo mundo recriado na luz da ressurreição do Senhor. Esta Vigília se conclui com o “Aleluia”, canto, por excelência, da ressurreição, e a Solene liturgia eucarística da Páscoa do Senhor.

Domingo da Páscoa. A Páscoa é a festa da nova criação. Jesus ressuscitou e nunca mais morre. A porta que dá acesso à nova vida foi arrebentada. Na Páscoa, ao amanhecer do primeiro dia da semana, Deus disse novamente: “Faça-se a luz!” Antes tinham vindo a noite escura do Monte das Oliveiras e da traição de Judas, o eclipse solar da paixão e morte de Jesus, a noite do sepulcro e do silêncio. Mas, agora a criação recomeça inteiramente nova. Jesus ressuscita do sepulcro. A vida é mais forte que a morte. O bem é mais forte que o mal. O amor é mais forte que o ódio. A verdade é mais forte que a mentira. O salmo desta liturgia canta: “Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos”. A Ressurreição de Cristo é o mistério fundante da fé cristã. Já bem dizia Santo Agostinho: “Crer que Jesus morreu não é grande coisa. Isto até os pagãos professam. Grande coisa é crer que Jesus ressuscitou. A fé cristã é a ressurreição de Cristo”. O Ressuscitado vence toda forma de escuridão. Ele é o novo dia de Deus que dá sentido pleno à nossa vida. Celebremos, portanto, nossa Páscoa na pureza e na verdade.


FELIZ PÁSCOA DE RESSURREIÇÃO!
Fonte: divinooleiro

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