O
vereador é o primeiro contato com a sociedade. Às vezes, o cidadão
vai até a Prefeitura para falar com secretários, para falar com o
próprio prefeito, mas acaba não tendo a devida atenção,
dependendo do porte do município. Os problemas acabam, portanto,
batendo na porta do gabinete dos vereadores, que acolhem a demanda,
inevitavelmente. Isto quando o vereador dá expediente para atender o
povo, ao contrário daqueles que só aparecem em dias de sessões.
Devido
a esta dinâmica, os vereadores acabam tendo um contato mais direto
com a sociedade, acabam conhecendo de forma detalhada os problemas do
município.
Uma
das piores coisas que existe é ser vereador de oposição. Não
apenas porque o vereador de oposição vive de pão e água, mas
porque a arte de construir a oposição é extremamente difícil. O
vereador de oposição precisa pressionar o projeto do prefeito,
porque são projetos diferentes, mas não pode ser um posicionamento
que o distancie da sociedade, ou que você venda a cidade de uma
forma que a população começa a questionar sua postura.
O
vereador de oposição precisa mostrar que representa outro projeto,
mas não pode cair no isolamento. Não falo de isolamento na Câmara,
falo do isolamento na sociedade. Tem gente que fica 8 anos como
vereador isolado, os colegas não aprovam nem requerimento.
O
vereador de oposição precisa buscar o ponto de equilíbrio entre o
projeto que ele defende e a forma de criticar e como criticar o
projeto do prefeito a que ele se opõe. A relação que o vereador
oposicionista estabelece com a sociedade é fundamental para ganhar
credibilidade.
Sempre
acreditei que a atividade de vereador possui dois pilares: primeiro,
a arte de legislar; segundo, a organização social. Se o vereador
conseguir construir esses dois pilares, não tenho dúvida de que ele
será um belo parlamentar.
Conhecer
o Regimento Interno, saber formular requerimento, elaborar bons
projetos de lei, saber fiscalizar, são atividades que o vereador não
deve abrir mão.
A
segunda é organizar e mobilizar a população. Portanto, o vereador
conhece a arte de governar, mas também tem lastro na sociedade, está
em contato com a sociedade, ele participa efetivamente da vida da
sociedade.
Tudo
em nossa vida precisa passar por um planejamento. O mandato também
necessita de um bom planejamento. O vereador precisa saber
estabelecer prioridades, pois, dependendo do porte da cidade, o
mandato do vereador não chega a todos os bairros.
Ele
pode dialogar os problemas gerais da cidade, mas precisa escolher
aquela região que pretende ter raiz, base organizada, estabelecer de
fato uma base social. No planejamento, o parlamentar pode definir em
quais áreas pretende ser autoridade para fazer o debate.
A
tendência é o vereador querer abraçar a cidade inteira,
especialmente vereador de primeiro mandato, falar de tudo, atacar a
cidade inteira. Aí tende a ter um mandato disperso. Já vi
parlamentares brilhantes não se reelegerem por falta de planejamento
destas questões.
Muitas
vezes alguns vereadores acham que aquilo que falam na Câmara é
escutado pela cidade inteira, e não é verdade. O cidadão comum só
se volta, ou só foca na política, durante o processo eleitoral. Já
ouvi vereador fazer um discurso coerente, inflamado e com conteúdo,
mas pouquíssimas pessoas ficaram sabendo do que ele tratou.
Tem
vereador que pensa que o centro da cidade é a Câmara. O centro das
coisas para as pessoas é a saúde, o emprego, a educação, a
creche... E nem sempre o assunto que julga-se.
O
vereador precisa ter uma política de comunicação para com a
cidade, pode ser um informativo simples, mas é importante prestar
contas do mandato. Lembrar que o eleitor existe.
O
vereador de situação tem mais facilidade de ver seus pedidos
atendidos, mas se não tiver um trabalho forte na sociedade, tende a
desaparecer. Como ele estará alinhado com o prefeito, não vai ter
visibilidade na crítica, na denúncia.
O
vereador de situação fica sempre na sombra do governo. Ele só
sobrevive se tiver muita organização social e se também conquistar
autoridade na defesa de alguns temas.
Com
relação aos prefeitos, temos normalmente duas características:
todo prefeito quer compor a maioria na Câmara, caso contrário, não
governa.
Tem
um tipo de prefeito que busca a maioria de forma mais habilidosa, e
tem um tipo de prefeito que pretende buscar a maioria através da
truculência. A tendência deste último é tratar o vereador a pão
e água, não anuncia e não saúda o vereador presente nos eventos
da cidade etc.
O
primeiro tipo de prefeito busca compor a maioria utilizando-se de
forma mais republicana. Reconhece o papel da Câmara, é cordial com
todos os vereadores.
Buscar
a maioria é fundamental para qualquer prefeito. O vereador pode ser
o equilíbrio entre os Poderes.
O
prefeito deve ter um relacionamento saudável com os vereadores, pois
ele precisa da Câmara. A arte de governar é a arte de buscar apoio
junto aos vereadores, dada a importância do papel que os mesmos
ocupam. O prefeito precisa buscar a governabilidade na Câmara e
também junto à sociedade.
Concluindo:
a Câmara é a grande escola da política. É muito mais difícil ser
vereador de oposição do que de situação. Se valorizem enquanto
vereadores, pois o prefeito não faz nada sem a atuação dos
vereadores.
Texto
adaptado por Luciano Silva
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