Ceará Acontece: Bactéria encontrada no Mandacaru é usada para reduzir perda de milho por falta de chuva

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Bactéria encontrada no Mandacaru é usada para reduzir perda de milho por falta de chuva

 

Uma bactéria encontrada na rizosfera do cacto tão comum na região da Caatinga (Cereus jamacaru), vai ajudar as lavouras de milho brasileiras a suportar a seca, assegura os pesquisadores.

“Plantei dois hectares de milho divido entre as terras altas e baixas e perdi uns trinta por centro porque faltou chuva no começo de março”. O relato é do agricultor de base familiar Francisco Ferreira, do distrito de José de Alencar, zona rural de Iguatu. Mesmo tendo sido observado um acumulado 10,9% acima do esperado na atual quadra chuvosa, a irregularidade espacial e temporal das chuvas no município provoca perdas do plantio de culturas de sequeiro.

 

O que ocorreu com o produtor rural é um impacto comum à produção agrícola brasileira e em particular ao sertão nordestino. E uma das culturas mais afetadas é o milho, que sofre com a falta de água.

 

A boa notícia é que a perda do grão por veranicos (períodos curtos de seca) deverá ser reduzida nos próximos anos, graças à criação de um novo bioinsumo, desenvolvido pela Embrapa Meio Ambiente (unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) a partir de uma planta comum no sertão nordestino, o mandacaru. 

 

Uma bactéria encontrada na rizosfera do cacto tão comum na região da Caatinga (Cereus jamacaru), vai ajudar as lavouras de milho brasileiras a suportar a seca, assegura os pesquisadores.

 

A rizobactéria "Bacillus aryabhattai" é a base do novo bioinsumo que aumenta a resiliência e a capacidade de adaptação das plantas do cereal ao estresse hídrico. O produto recebeu o nome comercial de Auras e, segundo os desenvolvedores, é capaz de promover o crescimento do grão mesmo em condições de seca.

 

A Embrapa Meio Ambiente pontua que o produto é capaz de reduzir os efeitos causados pelas estiagens prolongadas, minimizando riscos e expressando o potencial das lavouras.

 

Pesquisa

 

Foram 12 anos de pesquisa por técnicos da empresa que resultaram no desenvolvimento de uma tecnologia inovadora e a fabricação do produto, um inoculante que chega ao mercado graças à parceria público-privada com uma empresa de Minas Gerais.

 

Inicialmente, o produto destina-se à cultura do milho, que “é uma das mais atingidas por veranicos e restrições hídricas em geral”, como lembra o agrônomo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), Kléber Correia.

 

Os técnicos esclarecem que o bioinsumo não resulta no aumento de produção, mas protege a lavoura de perdas ocasionadas por escassez de água. “Confere um maior desenvolvimento radicular e mitiga efeitos do estresse hídrico na cultura”, frisou Cláudio Nasser, diretor da NOOA Ciência e Tecnologia Agrícola, parceira da Embrapa Meio Ambiente.

 

A estimativa inicial é que o produto salve da seca entre 360 quilos a 480 quilos do grão, por hectare, em média, contra um investimento que gira ao redor de 25 kg de milho por hectare.

 

“A intenção é ampliar o uso do produto para outras culturas, como soja e trigo”, ressaltou o pesquisador da Embrapa, Itamar Soares de Melo, que desenvolveu a pesquisa com a rizobactéria da qual derivou o novo bioativo. “Por enquanto, só existe essa pesquisa sobre essa tecnologia em agricultura tropical, que é a que sofre maior impacto da seca”.

 

Para o chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, Marcelo Morandi, “a tecnologia é o resultado de muitos anos de pesquisa na seleção de microrganismos com características de interesse para a agricultura e da parceria com uma empresa que vislumbrou esse futuro e agora torna o produto acessível ao produtor”.

 

Para a empresa parceira, a nova tecnologia deverá ser adotada em 1% da área plantada de milho no País durante o primeiro ano, mas a expectativa é de crescimento do uso do produto. “Pretendemos atingir 10% dessa área em cinco anos,” prevê o presidente da empresa, Claudio Nasser.

 *Com informações do Diário do Nordeste.

 

 

 


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