A política
nutre-se da polêmica: os vários interesses econômicos, sociais etc., se
manifestam através de idéias e propostas em permanente colisão e negociação.
Aristóteles, em sua obra Política, afirmou que “o fim da política não é viver,
mas viver bem”. A idéia que temos de que a política é a luta constante pelo bem
comum, pela justiça, o bom governo etc., remonta à tradição aristotélica, à
filosofia política de Platão e ao pensamento cristão medieval. Estas idéias
fundamentam a ação pastoral da Igreja. Esta maneira de conceber a política é
prescritiva, isto é, indica o ideal (como deveria ser bom governo, uma
sociedade justa e igualitária, etc.).
Esta é uma
bela idéia que alicerça a ação de milhares de pessoas por este Brasil afora.
Militam em movimentos sociais, associações, sindicatos, partidos e pastorais.
São pessoas que nutrem uma utopia, dedicam a vida à construção de um ideal
traduzido na busca incessante do bem-comum. Nem tudo é podridão no reino da
política. Reconheçamos que, concordemos ou não com suas ações e idéias, ainda
existem os idealistas, os que consagram boa parte do seu precioso tempo (pois
que na vida, o que passou, passou!) à coletividade.
É verdade
que muitos são animados por necessidades prementes e bem concretas (comer,
morar, trabalhar na terra, etc.). Mas também é verdade que sonham um sonho: o
sonho de uma sociedade na qual as mazelas sociais presentes em nosso no
cotidiano e que ferem as nossas mentes e corações sejam superadas.
Pois que, em
meio à insensibilidade de muitos diante das questões sociais, ainda há aqueles
se sensibilizam com o olhar desesperançado do trabalhador consternado ante a
falta de perspectivas. Estes são os que ainda se sensibilizam diante do olhar
de uma criança num acampamento de trabalhadores sem-terra, ou numa rua qualquer
do espaço urbano, pedinte ou em grupo cheirando cola ou utilizando drogas, com
suas energias vitais esvaindo-se, num cortejo fúnebre à morte antecipada.
Deixemos as
chagas que a nossa sociedade alimenta momentaneamente de lado. Afinal, esse
quadro sombrio, que teimamos em perpetuar, é, para muitos, natural, sem
qualquer relação com a política. Voltemos ao idealismo dos que buscam o
bem-comum em sua práxis política. Embora sejam imprescindíveis, esses homens e
mulheres padecem de uma teoria ingênua sobre a política.
Se a
política é essencialmente a oposição e luta entre interesses diferenciados e
antagônicos, então, a idéia de política como a busca incessante do bem-comum é
um projeto irrealizável nos marcos da própria existência da política. Como nos
ensinou Maquiavel, política é sobretudo a arte de conquistar, dominar e manter
o poder político.
Pensar na
superação dos interesses econômicos particularistas, individualistas e
egoístas, ou seja, na predominância do coletivo sobre a lógica que anima nossa
sociedade significa, em última instância, imaginar a utopia da não-política, em
outra palavras, a sociedade onde a política e o Estado não sejam mais
necessários.
Enquanto a
política se fizer necessária, seus fins serão tantos quanto os objetivos que os
grupos econômicos e políticos se coloquem. Assim, o bem comum, a justiça, o bom
governo etc., são meios ideológicos ou pura retórica de que se servem tanto os
idealistas quanto os grupos econômica e politicamente dominantes que procuram nos
fazer acreditar que seus interesses particularistas são nossos interesses. É a
ilusão do Estado enquanto guardião dos interesses comuns, como se este fosse
neutro na luta política. É preciso, portanto, desmistificar a ilusão
democrática da política e do Estado como agentes do bem-comum.
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