Nas
eleições do Ceará, os irmãos Cid e Ciro Gomes, principais líderes
políticos do Estado, enfrentarão dois ex-aliados, Eunício Oliveira
(PMDB), pré-candidato ao governo, e Tasso Jereissati (PSDB), que
deverá disputar o Senado. O maior problema que têm para resolver no
momento, porém, são os conflitos internos. Cid, governador, e Ciro,
secretário estadual de Saúde, estão em guerra com a direção
nacional do PROS, partido para onde migraram em outubro passado após
deixarem o PSB por discordarem da candidatura de Eduardo Campos à
Presidência da República.
Os
irmãos acusaram parte da bancada de deputados do PROS de
“chantagem”, por ter exigido a saída do ministro da Integração
Nacional, Francisco Teixeira, ligado a Cid. O líder do partido na
Câmara, Givaldo Carimbão (AL), e outros deputados ameaçam
abandonar a reeleição da presidente Dilma Rousseff e embarcar na
campanha de Eduardo Campos. “Abomino qualquer tipo de chantagem.
Recebi muitos convites quando decidi sair do PSB e sou grato por
isso. A condição básica era o apoio a Dilma, o que foi garantido
pelo PROS. Que diabo é isso agora? Estão com ciúme porque sou
amigo da Dilma? “, reagiu Cid, em entrevista ao Estado.
O
governador ainda não decidiu quem será o candidato do PROS à sua
sucessão. Diz não ter pressa e que “quem deve iniciar o processo
eleitoral é a oposição”. Há duas semanas, o PMDB deixou o
governo do Estado e fortaleceu a pré-candidatura do senador Eunício
Oliveira, líder isolado em pesquisa Ibope/O Povo de 5 de maio. No
pior desempenho, o peemedebista tem 42% e a petista Luizianne Lins,
ex-prefeita de Fortaleza, chega a 12%.
Alternativa.
O PT cearense é dividido entre o grupo liderado por Luizianne,
adversária dos irmãos Gomes, e a ala do deputado José Guimarães,
próximo do governador. Se Cid e Ciro optarem por deixar o PROS ou
ficarem isolados no partido, a alternativa será apoiar um candidato
petista próximo de Guimarães.
Eleito
senador em 2010 na chapa de reeleição de Cid Gomes, Eunício diz
que tinha a promessa do governador de apoiá-lo este ano, mas que o
ex-aliado não se manifestou, quando foi procurado, em meados de
abril. “Entendi o silêncio de Cid como uma resposta negativa”,
afirma. Eunício reconhece que a aliança com o PSDB é uma
possibilidade. “Eu disse à presidenta Dilma: ‘Se não houver
acordo (com Cid Gomes), eu voto na senhora, mas vou abrir meu
palanque’. Não tenho objeção em fazer uma aliança fora da
base”, diz o peemedebista. Na reforma ministerial, Dilma ofereceu a
Integração Nacional a Eunício, em uma tentativa de tirar o senador
da disputa cearense, mas ele rejeitou o convite.
Outro
protagonista da eleição no Ceará deverá ser o tucano Tasso
Jereissati, que rompeu com os irmãos Gomes em 2010, depois de 20
anos de aliança. Derrotado na disputa pelo Senado, o ex-governador e
ex-senador foi pressionado pelo pré-candidato do PSDB à Presidência
da República, senador Aécio Neves, a abrir um palanque no Estado de
6,1 milhões de eleitores – é o oitavo colégio eleitoral do País.
Tasso
não aceita disputar o governo, mas concordou em ser candidato a
senador. Pode se aliar a Eunício ou formar uma chapa com o
ex-deputado e ex-prefeito de Maracanaú Roberto Pessoa, do PR. O nome
de Tasso também faz parte da longa lista de possíveis candidatos a
vice de Aécio.
O
cenário de candidaturas está incerto, mas os eleitores não têm
dúvida em apontar saúde e segurança como os principais problemas
do Ceará. As reclamações de atendimento precário e falta de
médicos se agravaram quando, em janeiro do ano passado, o governo do
Estado gastou R$ 650 mil com um show de Ivete Sangalo de inauguração
do Hospital Geral do Norte, em Sobral, base eleitoral da família
Gomes.
Menos
de um mês depois, a fachada do hospital desabou durante um temporal.
Cid reage citando uma série de investimentos em saúde e diz que o
atendimento à população é mais eficiente que no passado.
O
governador enfrentou outras denúncias de gastos indevidos. Em 2008,
pediu desculpas por ter levado a sogra para uma viagem à Europa paga
pelo poder público. No ano passado, anunciou que mudaria o cardápio
do Palácio da Abolição depois da denúncia de que caviar, lagosta
e escargot faziam parte do buffet oficial.
Violência.
Mas é o aumento da violência no Estado que domina a pré-campanha.
O governador reclama do “uso eleitoral” do tema pela oposição,
mas reconhece que o aumento dos homicídios é preocupante. O PSDB
levou o assunto para as inserções do partido no rádio e na
televisão.
“Tomei
todas as medidas, aumentei o número de delegacias, investi em
capacitação, aprimorei o controle externo, fui criticado porque
comprei Hilux, mas são carros bons que rodam 24 horas”, diz o
governador, que atribui ao tráfico de drogas o aumento dos
assassinatos. “Oitenta por cento dos casos estão associados a
drogas”, afirma.
O
governo cearense contestou levantamento de uma ONG mexicana que
apontou Fortaleza como a segunda capital mais violenta do País, com
72,8 mil homicídios por cem mil habitantes em 2013. O Centro
Brasileiro de Estudos Latino Americanos (Cebela) aponta taxa de 54
assassinatos por cem mil habitantes na capital em 2011, mais que o
dobro dos 25,2 assassinatos por cem mil habitantes de 1999.
“Meu
filho quase foi atingido por uma bala quando saía da minha casa, com
meu neto no colo”, desabafa Maria de Lourdes Félix, de 58 anos,
moradora de Bom Jardim, um dos bairros mais violentos da capital
cearense. A construção da delegacia de Bom Jardim, obra de R$ 785
mil com recursos estaduais e federais, foi interrompida em dezembro.
Segundo Cid Gomes, a construtora faliu e o Estado procura uma solução
jurídica para concluir a delegacia.
“A
violência será tema central da campanha. Nossas pesquisas indicam
que a população tem a sensação de que existem duas polícias: uma
para a área nobre e outra para a periferia, onde a polícia desperta
a sensação de medo. Cid vai apresentar os investimentos em
segurança, mas será confrontado com as altas taxas de homicídios”,
afirma o sociólogo César Barreira, coordenador do Laboratório de
Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC).
(Cearáagora)
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