As
três escolas cearenses no top 10 nacional usaram alunos que fizeram parte do
Ensino Médio em outros colégios. A garimpagem burla ranking. Dentre as dez
instituições de ensino com as melhores médias no Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) 2014, a metade possui baixo índice de permanência. Isso mostra que o
aluno que prestou a prova não fez todo o Ensino Médio no colégio. É uma
estratégia para impulsionar o índice que foi usada por Farias Brito Central,
Christus Pré-Universitário e Ari de Sá Major Facundo, posicionados no top 10 do
ensino nacional.
O
ranking foi divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep) nesta quarta-feira (7). O índice gerou
polêmica entre escolas particulares, já que muitas instituições com as melhores
médias no Enem apresentam estudantes com período de permanência inferior a 20%.
Para
o professor integrante do Comitê Ceará da Campanha Nacional pelo Direito à
Educação, Idevaldo Bodião, não é novidade que grandes escolas do país convidem
bons alunos de escolas menores ou de escolas públicas para cursarem o terceiro
ano em uma de suas sedes. “O desenho é fácil: você convida um grupo desses
alunos e faz uma turma especial com eles. Mesmo com, quem sabe, um prejuízo
financeiro, essa escola vai ter a propaganda do final do ano garantida”,
aponta.
Para
Idevaldo, o índice divulgado é um alerta para pais e alunos que pretendem
escolher uma instituição de ensino para se prepararem para o vestibular. “Acho
importante o governo divulgar esse tipo de dado, assim, pais e alunos passam a
compreender que as médias cruas não evidenciam a realidade completa. Você deve
ir além, ver outros indicadores, antes de tomar uma decisão”, enfatiza.
O
Enem 2014 por escola acabou por revelar o quadro preocupante da indústria do
resultado que se instalou no país por completo. Deixando um questionamento
importante, estamos preparando nossos jovens para a vida ou para uma prova
específica? Para Bodião, o quadro exige atenção.
“Qual
o grande complicador de tudo isso? Exames como a Prova Brasil, a Provinha
Brasil, o Encceja e o próprio Enem passam a definir o CURRÍCULO das escolas. A
secretaria de educação do Estado de São Paulo, por exemplo, eliminou, em 2013,
as matérias de ciência, história e geografia da grade curricular. E para quê?
Para que os alunos se dedicassem a matemática e português, matérias que são
avaliadas”, aponta.
“Isso
é perverso, não podemos transformar a nossa matriz pedagógica num processo de
“treinamento”. Para mim, a escola tem o objetivo de preparar para o
desenvolvimento pleno e para a participação cidadã desses jovens”, finaliza.
Fonte: Tribuna do Ceará
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