Porque para muitas pessoas é
muito mais gostoso e empolgante acreditar que algum cristão cometeu um pecado
cabeludo do que crer na sua inocência? Saber que os outros pecaram faz com que
nos sintamos melhor com nossa própria natureza pecaminosa, como se o pecado
alheio tivesse a capacidade de diminuir o nosso?

Na faculdade de
Jornalismo, aprendemos uma regra básica da profissão: nunca ouça um lado só da
história. Pois todo relato sempre terá mais de uma versão, mais de um ponto de vista,
e os implicados sempre vão defender os seus interesses. Isso é
algo tão evidente que, se assim não fosse, não haveria juízes para intermediar
disputas, nem árbitros, para dizer se foi pênalti ou não: o atacante sempre vai
afirmar que o zagueiro pôs a mão na bola dentro da área e o zagueiro sempre vai
negar. Por isso, ninguém conhece uma moeda por
inteiro sem ver suas duas faces. No entanto, muito frequentemente nós assumimos
verdades sobre outros só porque “alguém disse”. O que, em linguagem bíblica, é
exatamente o que significa “julgar o próximo”.
Existe a regra de ouro do
trânsito que, se for aplicada a sua vida, vai ajudá-lo muito a não cometer o
pecado do julgamento: “Na dúvida, não ultrapasse”.
Em outras palavras, se alguém te diz algo negativo sobre
um terceiro indivíduo que não está ali para se defender, não assuma
imediatamente como uma verdade, mesmo que a pessoa que te passou a informação
em questão seja alguém próximo de você, o seu melhor amigo ou alguém da sua
família. Sempre desconfie.
Lembre-se que uma mera afirmação contada como uma grande verdade
não quer dizer absolutamente
nada: se eu digo que o céu é vermelho ele não será menos azul por causa disso.
Mas nós, seres humanos, somos como grandes papagaios, que propagamos maldosas
inverdades, meias-verdades ou realidades distorcidas só porque alguém nos falou
– e como o ser humano tem um prazer sádico e
inerente de falar mal dos outros, repetimos a quem quiser ouvir sem ter sequer
escutado o que os réus têm a dizer. E acreditamos em tudo! Tenho visto
isso com uma frequência avassaladora entre nós, cristãos. Lembre-se das
mulheres que foram a Salomão para ele decidir de qual das duas era o filho.
Ambas juravam de pés juntos que eram a mãe. Salomão não acreditou, simplesmente
tirou a prova dos nove e averiguou sabiamente os fatos em sua totalidade.

Uma
passagem bíblica específica sobre o assunto é o julgamento de Jesus, relatado
em Mateus 26. Não só porque mostra como é a coisa mais fácil do mundo levantar
falsas testemunhas cheias de provas e afirmações contra alguém, mas,
principalmente, porque mostra o exemplo do Mestre acerca de como reagir.
Repare: “Ora, os principais sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum
testemunho falso contra Jesus, a fim de o condenarem à morte. E não acharam,
apesar de se terem apresentado muitas testemunhas falsas“. Veja que estamos falando de pessoas que na sociedade eram
altamente conceituadas, eram sacerdotes e autoridades e que apresentaram muitas
provas. Mas foi tudo articulado com um único objetivo: sujar o bom nome daquele
homem.
Vamos
adiante: “Mas, afinal, compareceram duas, afirmando: Este disse: Posso destruir
o santuário de Deus e reedificá-lo em três dias. E, levantando-se o sumo
sacerdote, perguntou a Jesus: Nada respondes ao que estes depõem contra ti?
Jesus, porém, guardou silêncio“. De tudo, as antipalavras do Mestre são o que
mais me maravilha. O homem que teve sua honra
achincalhada e seu nome lançado na lama não berrou nem esperneou para se
defender. Não apresentou provas ou testemunhas que o inocentassem. Mas “guardou
silêncio”. Confirmando Isaías 53.7: “Ele foi oprimido e humilhado, mas
não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda
perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca“. Eis o padrão cristão.
Sei
que é difícil, pois nossa natureza clama por justiça. Mas foi o que o manso
Cordeiro fez. Em seu exemplo, ele demonstrou que o juízo de Deus é muito,
muito, mas muito mais severo que o dos homens – e do que qualquer coisa que
você possa fazer para revidar ataques ou maledicências contra você. Lembre-se
de Hebreus 10.31: “Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo“. E tem mais uma
coisa: um cristão autêntico – aquele que errou no passado, se arrependeu de
seus pecados, alcançou a misericórdia de Deus e se esforça por não errar mais –
não condena pessoas, ainda que sejam culpadas. Pois
sabe que elas são tão pó como ele. Porque o cristão que se arrependeu de fato
de seus erros e sabe que o ser humano é passível de errar e ser reerguido por
Cristo não devolve mal com mal. Ora e torce pela restauração do pecador.
O cristão de verdade não quer prejudicar ninguém –
pois sempre tem a esperança de que o outro chegue ao arrependimento e produza
frutos para o Reino de Deus. O cristão de verdade não destrói: constrói. Pois
quem veio para destruir você sabe quem é.

Em
Romanos 12, Paulo nos ensina algo que quase nenhum cristão faz: “Não torneis a
ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens; se
possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens; não vos
vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim
me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor“. Depois de mostrar
o que espera aquele que receberá a vingança de Deus pelo mal que praticou
contra o próximo, o apóstolo nos diz o que fazer: “Pelo
contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe
de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não
te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem“. Mas isso só faz quem é
cristão de verdade.
Essa
é a atitude bíblica. Esse é o procedimento. É isso o que pelo menos devemos
tentar fazer. Vejo pessoas que se dizem “representantes do povo” indo para o
rádio e a Internet para, em vez de dá bons exemplos, vão agredir, atacar,
ofender. Há muitas pessoas que desejam o mal ao próximo. Que estimulam o
disse-me-disse sobre o último escândalo da moda. Sem meias palavras: isso é
demoníaco. É assim, entre outras coisas, que se mede um verdadeiro homem que
segue os ensinamentos de Deus: como ele zela pelo próximo, em especial os que
erraram contra si. Então, se você de fato é trigo e
não joio, preserve as pessoas e lute em aconselhamento e oração para que
cheguem ao arrependimento e à salvação.
Minha sugestão sincera: não se junte à massa dos que tomam de
Deus o papel de juiz. Se
fulano estuprou, matou ou roubou alguém, se alguém cometeu esse e aquele
pecado, a atitude mais bíblica que você tem a fazer é se calar. Não se assente na roda dos escarnecedores cristãos. Não
alimente o disse-me-disse. Não ponha lenha na fogueira. Sei que o Diabo fica
tentando pôr a lenha na sua mão, mas resista a ele. Deixe que a língua coce,
garanto que depois passa. Tente guardar
silêncio e agir com amor perdoador e sofredor, pois aí a justiça do alto
funcionará em favor de todos: dos acusados e dos acusadores. Inclusive você.
Paz a
todos vocês,
Texto original Blog de Maurício
Zágari
Adaptação: Professor Luciano Silva
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