Ao falarmos dos outros, revelamos muito sobre nós mesmos
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Existe uma frase atribuída a Sigmund Freud, o criador da psicanálise, que traz os seguintes dizeres: "Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo". Se a sentença foi realmente proferida por Freud, não se sabe. Entretanto, o significado da mensagem faz sentido.
É normal e esperado que pais,
familiares e amigos íntimos preocupem-se conosco e perguntem sobre nossas
vidas. Nesses casos, trata-se de afeto e consideração, pois quem nos ama nos dá
atenção com intenções sinceras. Porém, há quem pareça saber tudo sobre nossas
vidas, até mais do que nós mesmos sabemos, e pior, indivíduos que mal
conhecemos, pois não fazem parte de nossas vidas.
Existem pessoas que têm mania
de falar da vida alheia para quem quiser ouvir e onde estiver. De longe,
controlam a hora em que chegamos e saímos, o que almoçamos e com quem, se
repetimos ou não a roupa, se trabalhamos direito, com quem estamos nos
relacionando, enfim, são os biógrafos de plantão. Temos a sensação de que
estamos sendo observados por câmeras escondidas, tamanha é a convicção com que
essas pessoas fazem afirmações sobre nossas vidas.
Se os biógrafos de vidas
alheias se limitassem a nos pesquisar para si só, seria menos irritante. Mas
não, eles fazem questão de falar sobre nós para os outros, na maioria das vezes
denegrindo nossa imagem, destacando em nós aquilo que eles julgam inadequado.
Têm a necessidade de apagar qualquer brilho que possa vir a ofuscar a sua
suposta superioridade, no trabalho e na vida lá fora, fazendo de tudo, de forma
perigosamente velada, para que chefes e colegas vejam em nós alguém não
confiável.
Pessoas que se comprazem em
querer saber tudo da vida do outro parecem ser indivíduos vazios e infelizes,
pois não conseguem achar nada de bom em si mesmos, ou seja, não enxergam nada
que valha a pena dentro de si e necessitam se preencher com algo de fora.
Tentar diminuir o outro com maledicências, além de ser uma atitude covarde,
denota fraqueza emocional e de caráter. O vazio interior e o desprezo de si
mesmo devem ser tão insuportáveis, que passam então a ser combatidos com a
exposição venenosa da vida alheia. Quem é infeliz consigo mesmo não suporta ver
ninguém esboçando sorrisos e tenta atrair tudo à sua volta para sua escuridão
miserável – inutilmente, na maioria das vezes, pois quem brilha por si só não
se abala com miudezas como essas.
Lembremos que a verdade sempre
aparece, a despeito de toda fofoca e toda maldade que nos cerca, pois o bem há
de ser mais poderoso do que o mal na trama de nossas vidas, assim como também o
é na ficção. Porque não somos novelas, não somos celebridades, então não somos
obrigados.
Marcel Camargo
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