As lágrimas de quem corta
cebolas para cozinhar estão com os dias contados. A safra 2017 do estado de São
Paulo, que chega aos mercados nos próximos dias, tem uma novidade: uma
variedade “que não faz chorar”. Isso porque pesquisadores da multinacional
alemã Bayer, após mais de 20 anos, conseguiram reduzir a quantidade de enxofre
que é liberado quando a cebola é cortada e em contato com os olhos, causa irritação
e choro.
O processo de criação da nova
variedade, chamada Dulciana, começou com a avaliação das diversas variedades de
cebola disponíveis no mercado. Depois, as que tinham características desejadas
– como mais açúcares, menos acidez e menos enxofre – foram selecionadas e,
então, foi feito o cruzamento entre elas, para fazer o melhoramento genético.
“Depois, testamos o novo híbrido no campo, avaliamos os índices de
produtividade e a resistência a doenças”, conta o pesquisador Joelson Freitas,
do segmento de cebolas da Bayer.
Os agricultores que plantaram a
nova variedade queriam ter em mãos um produto diferenciado, como Sidimar
Mengali, de Itobi, município localizado a 250 quilômetros de São Paulo. Ele e
outros colegas de sua região começaram a colher na sexta-feira passada a nova
variedade. “Os compradores estão pedindo por ser uma cebola menos ardida, mais
agradável”, diz o agricultor, que plantou 40 hectares no total.
Em 2015, o Estado de São Paulo
colheu 197 mil toneladas de cebola, o equivalente a 13,6% da produção nacional,
de 1,44 milhão, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Santa Catarina e Bahia foram os campeões na produção, com 339 mil e 282
mil toneladas, respectivamente.
A nova cebola é o sonho de quem
“sofre” quando vai cozinhar. Marisabel Woodman, proprietária de um restaurante
peruano que usa 150 quilos de cebola por semana, diz que ter outra variedade é
bom, principalmente se ela evita as lágrimas. “Na hora de cortar, todo mundo
aqui no restaurante chora, o ambiente fica até carregado”, brinca a chef do La
Peruana, na zona oeste paulistana.
Cozinheiro-chefe de um
restaurante por quilo, Rildo Félix afirma que, apesar da experiência, não
consegue evitar as lágrimas quando corta cebolas. “É só cortar a primeira que
já começa o choro, é inevitável”, diz ele, que usa 30 quilos por semana no
Feijão Brasil, nas proximidades da Avenida Paulista. “Nunca tinha ouvido falar,
me despertou a curiosidade”, comenta. Para Félix, variedades diferentes podem
diversificar o consumo da cebola no País, ainda vista como tempero.
Feirante há 35 anos, Antônio de
Campos Madeira relata que a maior parte de seus clientes busca cebola para
temperar arroz, feijão ou acompanhar um bife. Mas alguns procuram cebolas mais
suaves, sem sucesso. “Essa variedade nova vai satisfazer esse pessoal”, opina.
Futuro
O coordenador da Câmara
Setorial de Cebola da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Santa Catarina
(Epagri), Daniel Schmitt diz que cebolas menos ácidas têm espaço nos Estados
Unidos. Lá, nos anos 1980, o consumo do alimento caía entre jovens e crianças.
Então, pesquisadores selecionaram variedades mais suaves, que tiveram boa
aceitação e alavancaram o consumo.
Faltava essa oferta no País.
Faltava essa oferta no País.
"Vamos alcançar um novo público
e o consumo de cebola, em média de 7 quilos por pessoa por ano, pode aumentar”,
diz Schmitt. Uruguaios e argentinos comem cerca de 12 quilos por ano.
(Fonte: Agência Estado, via
Itatiaia)
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