Três contas de três agências
bancárias de São Luís, no Maranhão, foram o destino dos R$ 552,5 mil que saíram
da conta da Prefeitura de Camocim e creditadas para fraudadores. O dinheiro foi
liberado após contato feito via WhatsApp por estelionatários que clonaram o
celular da prefeita Monica Aguiar (PDT). O POVO apurou que já seriam pelo menos
oito prefeitos com celulares clonados este ano, que tiveram assessores
abordados em tentativas de aplicar o mesmo golpe.
A conta que teve o maior
repasse da Prefeitura de Camocim (R$ 445 mil, em três operações) é do Banco
Inter, no formato digital – serviço disponibilizado pelo banco. O titular seria
um advogado. Buscas online indicam que um homem com o mesmo nome foi preso por
falsificar documentação veicular na capital maranhense. O caso foi em 2015 e
tem registro na 6ª Vara Criminal.
Um outro beneficiado da
transferência irregular do dinheiro de Camocim seria um empresário, titular de
conta do Banco do Nordeste na agência da rua Grande, Centro de São Luís. O
valor para ele foi de R$ 90 mil. A terceira operação, de R$ 17.500, foi para
uma agência da Caixa Econômica, também no Centro da cidade. Uma investigação
deverá ser conduzida pela Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF).
O procurador municipal de
Camocim, Alexandre Maia, esclareceu ao O POVO que o dinheiro obtido pelos
estelionatários saiu do Tesouro Municipal, e não de verbas do Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação (Fundeb), repassadas pela União. Ele confirma que o
dinheiro chegou a ser transferido ainda na tarde de sexta-feira, em cinco
operações. “Houve a transferência. O que nós conseguimos foi o bloqueio já na
conta destino”, explicou Maia.
Apenas na tarde de domingo, no
plantão judiciário cível, a juíza Mabel Viana concedeu liminar bloqueando o
repasse dos recursos. As transações haviam sido online. Sobre a possível
retirada do dinheiro pela quadrilha, o procurador afirmou que “a informação da
superintendência do Banco do Brasil é que não (teria acontecido)”.
Tanto o BB como os demais
bancos foram intimados por oficiais de justiça no início do expediente de
segunda-feira. Na página eletrônica, a Prefeitura emitiu nota garantindo que
não foi gerado “nenhum prejuízo ao município”. “Estamos aguardando o Banco do
Brasil abrir um processo administrativo para que seja feito o estorno. A
própria decisão judicial determina esse estorno”, acrescenta Alexandre Maia.
Itarema
O prefeito de Itarema, Elizeu
Charles Monteiro, teve seu número de celular clonado por golpistas que estavam
querendo aplicar um golpe nas contas da Prefeitura.
Os golpistas ligaram para a
pessoa responsável pela contabilidade do Município do número do prefeito, tendo
dito que o gestor teria determinado uma transferência de certa quantia em
dinheiro para uma conta de pessoa física.
O técnico responsável pela
contabilidade, achando estranha a determinação que seria do prefeito, ligou
para uma pessoa próxima, que então descobriram que se tratava de um golpe.
Jijoca
de Jericoacora
O prefeito de Jijoca de Jericoacoara, Lindbergh Martins, foi igualmente vítima dessa tentativa de golpe, mas igualmente foi identificado o delito e desmanchado o plano da quadrilha que está agora com esse novo golpe.
Crato
O prefeito do Crato, José Ailton Brasil, passou por história semelhante, mas com desfecho menos traumático. O celular dele chegou a ser clonado duas vezes este ano. Uma em junho e outra na quarta-feira da semana passada, dia 28. Em junho, o fraudador chegou a pedir uma transferência comum, de R$ 2 mil, se passando pelo prefeito e fingindo estar sem dinheiro na conta. Ouviu que não seria possível e insistiu se poderia ser de R$ 1 mil. Na última quarta, o assessor do prefeito percebeu que era fraude quando a mensagem do golpista foi mais direta: “Com quem consigo o saldo do Fundeb?”.
O prefeito de Araripe, Giovane Guedes (PR), foi uma vítima ainda mais recente. Anteontem, por volta das 11 da manhã, disse que notou quando ficou sem sinal de celular, mas não desconfiou que pudesse ser a interferência dos clonadores. A quadrilha enviou mensagens para o secretário de Gestão, Renan Alves, e para a tesoureira da cidade, Isaulina Alves. Os fraudadores passaram números de contas e um pedido para que fossem depositados R$ 100 mil de verba da Educação. O trâmite não seria simples e houve a desconfiança. Os golpistas chegaram a falar por mensagens com a primeira-dama, Helena Alencar, se passando pelo prefeito, pedindo que ela pressionasse a tesoureira sobre a transferência.
Rateio
O BB não confirmou à Prefeitura
de Camocim se houve transferência das contas submetidas ao bloqueio por ordem
judicial. Uma das possibilidades levantadas seria de a quadrilha ter rateado o
dinheiro transferido em valores menores, para agilizar os saques.
Contabilidade
O procurador de Camocim,
Alexandre Maia, disse não dispor de detalhes contábeis do município – como o
saldo atual após a transferência dos recursos para os golpistas. “Só disponho
de informações do processo”.
Fazenda Pública
Os autos do caso estão na 3ª
Vara da Fazenda Pública. O procurador disse que já houve nova decisão pedindo
informações sobre a efetivação do bloqueio das transferências e determinando o
estorno para as contas de origem.
Vereadores
Os seis vereadores que
assinaram a representação ao MP cobrando explicações foram Juliano Abreu Cruz,
Edvanilson Oliveira, Júlio César Sotero, Marcos Antônio Veras, Erasmo Carlos
Gomes e Ismael Gomes Pinheiro.
Notificação
Até ontem à noite, o procurador
de Camocim disse que ainda não havia sido notificado sobre os procedimentos
abertos pela promotoria local e pela Procap, para apurar o ocorrido. “Soube da
representação dos vereadores”, admitiu.
Com O POVO – Repórter Cláudio
Ribeiro
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