Foto: Guilherme Bergamini/ALMG
Sessão na Assembleia Legislativa de Minas Gerais; no dia 20 de novembro, os
deputados estaduais aprovaram reajuste para os servidores.
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A dramática situação financeira
dos Estados não impediu que deputados armassem verdadeiras “bombas fiscais”
para os governadores eleitos que vão assumir seus mandatos a partir de 1.° de
janeiro. Em ao menos quatro Estados e no Distrito Federal, tramitam nos
Legislativos estaduais ou já foram aprovados após o resultado das urnas
projetos que, se somados, impactam em R$ 1,1 bilhão por ano os cofres públicos.
Em Minas, a Assembleia Legislativa
aprovou há 13 dias um aumento de salário para os servidores públicos que terá
impacto anual de R$ 122,5 milhões. O reajuste já foi sancionado pelo governador
em exercício, desembargador Nelson Missias de Morais. Fernando Pimentel (PT),
governador do Estado, está em viagem em caráter pessoal ao exterior. O vice,
Antônio Andrade (MDB), e o presidente da Assembleia, Adalclever Lopes(MDB),
substitutos diretos de Pimentel, também estão em viagem. No mês passado, já
havia sido aprovada a transferência para o governo de uma dívida de R$ 100,7
milhões de fundações associadas à Universidade do Estado de Minas Gerais
(Uemg).
“Não nos parece um momento
adequado. O Estado já está absolutamente falido”, disse o vereador de Belo
Horizonte Mateus Simões (Novo), coordenador da transição. O deputado estadual
André Quintão (PT), líder do governo, afirmou que a aprovação dos reajustes
representou uma questão legal, de data-base, e só não ocorreu antes por causa
do período eleitoral.
No Rio Grande do Sul, o
governador eleito, Eduardo Leite (PSDB), tenta convencer chefes dos outros
Poderes a desistirem da proposta de reajuste salarial de 5,58% dos servidores,
em análise na Assembleia. O impacto seria de R$ 132 milhões ao ano. O argumento
usado por Leite é a dificuldade do Estado em contrair mais um gasto.
Atrasos
O governo mineiro tem atrasado
o pagamento de salários e o repasse de recursos para os municípios do Estado.
Também não sabe quando e como vai reunir receita para saldar o 13.º salário do
funcionalismo deste ano. No Rio Grande do Sul, o problema ainda é o 13.º
referente a 2017, que não foi pago de forma integral. Alguns governadores
defendem a privatização de serviços públicos para fazer frente às despesas.
Ao avaliar as contas estaduais
de 2017, o Tesouro Nacional classificou o quadro como “insustentável”. Pelos
dados do órgão, 14 Estados estouraram o limite de comprometimento de gastos com
pessoal previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). O campeão foi Minas
Gerais (79,18% são comprometidos com salários e aposentadorias de servidores).
Como resultado, o déficit orçamentário de 2017 dos Estados apresentou piora em
R$ 12,5 bilhões em relação a 2016, fechando o ano com déficit de R$ 20,3
bilhões – pior resultado do triênio 2015-2017.
“Infelizmente é uma prática que
faz parte da nossa cultura política. A LRF foi uma tentativa de colocar um
freio nisso, mas existem muitos subterfúgios para driblá-la”, diz o cientista
político Rodrigo Prando, professor do Mackenzie.
Para o também cientista
político Humberto Dantas, da USP, os Legislativos funcionam com uma lógica
corporativista. “Muitas dessas pautas são relativas a gastos e benefícios para
alguns setores do serviço público ou grupos de pressão com poder econômico.”
Em Goiás, o Legislativo discute
a adoção do Orçamento Impositivo, que obriga o governador a executar emendas
parlamentares. O impacto pode passar de R$ 300 milhões. O governador eleito,
Ronaldo Caiado (DEM), disse aos deputados ser favorável, mas ressaltou as
dificuldades atuais. “Essa é uma prerrogativa dos deputados, eu tenho direito
apenas de expor a eles a realidade do momento.”
No DF, a licitação para a
contratação de planos de saúde e odontológicos para servidores públicos locais
é tratada como uma possível “pauta-bomba” pela equipe do governador eleito,
Ibaneis Rocha (MDB). Seriam necessários R$ 40 milhões para subsidiar o
benefício. “Estou resolvendo isso na base do diálogo com o governador Rodrigo
Rollemberg”, afirma Ibaneis.
Em SP, PEC dobra valor de
emendas legislativas
O governador eleito de São
Paulo, João Doria (PSDB), vai encontrar na Assembleia Legislativa uma lista com
14 propostas que poderão ter reflexo direto no orçamento do Estado em 2019,
previsto em R$ 229 bilhões.
O projeto de maior impacto é o
que tramita com apoio da maioria das bancadas porque tem potencial de aumentar
o capital político dos parlamentares. Trata-se de uma Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) apresentada pelo deputado estadual Jorge Caruso (PMDB) que
propõe dobrar, pelo segundo ano consecutivo, o valor das emendas impositivas –
cotas do Orçamento que dependem de indicação parlamentar para serem executadas.
Pela lei atual, os deputados
estaduais paulistas dispõem de 0,3% da receita corrente líquida do Estado em emendas
impositivas. Hoje, este valor equivale a cerca de R$ 4,5 milhões por deputado.
A proposta é elevar essa cota individual para 0,6% já a partir do ano que vem,
aumentando o valor para R$ 9 milhões. Se aprovada, a proposta geraria um
impacto de R$ 423 milhões no orçamento do Estado.
Outro projeto que preocupa a
base de Doria é o que propõe a redução da diferença salarial entre 1.° e 2.°
tenentes da Polícia Militar – que exercem as mesmas funções, mas recebem
remuneração 30,03% menor. Essa mudança acarretaria uma despesa extra anual de
R$ 200 milhões.
Tramita ainda em caráter de
urgência um Projeto de Lei Complementar que institui o Prêmio de Incentivo à
Qualidade para os servidores da Secretaria da Fazenda. O impacto nesse caso
seria menor: R$ 10 milhões por ano, de acordo com cálculo feito pela bancada do
PSDB na Assembleia paulista.
“Vamos analisar com critério os
projetos, aprovando o necessário, mas analisando também a saúde financeira do
Estado”, afirma o líder do PSDB, deputado Marco Vinholi.
/ PEDRO VENCESLAU e SAMUEL STRAIOTO, LUCIANO
NAGEL, LEONARDO AUGUSTO e ALEXANDRE FACCIOLLA, ESPECIAIS PARA O ESTADO
*MSN
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