Avaliações internacionais, como o Pisa, também mostram o Brasil entre as piores colocações em Matemática, com desempenho pior do que em Leitura. |
Dados da última avaliação nacional
realizada antes da pandemia mostram que 95% dos estudantes terminam a escola
pública no País sem o conhecimento esperado de Matemática. Isso quer dizer que
só 5% dos jovens do 3º ano do ensino médio conseguiam em 2019 resolver
problemas usando probabilidade ou o Teorema de Pitágoras.
Os resultados são ainda mais
graves porque os alunos passaram, em seguida, por um ano de escolas fechadas e
ensino remoto insuficiente. Além disso, o Congresso pode determinar que
municípios, Estados e União não mais precisem vincular uma quantidade mínima de
recursos para a educação, o que diminui as possibilidades de reverter o quadro,
segundo especialistas.
A tabulação dos resultados do
Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb) 2019 foi feita pela plataforma
QEdu e pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede),
com apoio da Fundação Lemann. Em Português, uma quantidade bem menor, 69%, não
chega ao nível considerado adequado. Eles não conseguem identificar a ironia em
um texto e inferir o tema de uma reportagem. Outros 31% são considerados
proficientes na disciplina.
“A matemática depende muito mais
da escola, a leitura você pode viver fora do ambiente escolar, a família pode
ajudar mais”, diz o diretor do Iede, Ernesto Faria. Segundo ele, o problema só
deve se agravar após o período de pandemia. Muitas escolas públicas no Brasil
não voltaram ainda ao ensino presencial. “Vão ser poucas as famílias que vão se
preocupar se o aluno não está assistindo uma aula de trigonometria, por
exemplo”, completa.
Mesmo entre escolas particulares
de elite, temas como geometria foram retirados do currículo do ano passado
porque não se encontrou uma maneira de ensinar online. “Se não tiver o
professor ao lado, estimulando, é muito difícil”, diz o coordenador da Olimpíada
Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), Claudio Landim.
Para ele, o problema no País,
mesmo em tempos pré-pandemia, é a falta de formação do professor para ensinar
matemática em cursos de Pedagogia. “Os professores passam a ensinar o que não
sabem às crianças, se tenta transmitir regras, algoritmos, sem saber o que
aquilo representa”, diz. Ao longo dos anos, completa, o problema vai se
acumulando e chegam ao fim da escola sabendo muito pouco de Matemática.
Os dados do Saeb mostram que no
5º ano do ensino fundamental, 47% sabem o que é adequado para a série na
disciplina nas escolas públicas. O índice cai para 18% no 9º ano do fundamental
e depois para 5% no 3º ano do médio.
João Cipriano Filho, professor de
Matemática de uma estadual de Salgueiro, cidade no sertão de Pernambuco, diz
que o segredo é o estímulo ao aluno. Sua escola tem Ideb 5,8 no ensino médio,
muito acima da média nacional na disciplina. “Muitos alunos já chegam do ensino
fundamental assustados com a Matemática”, conta. “Nosso diferencial é mostrar
que a gente acredita neles, que temos um objetivo comum, que é ele conseguir
entrar na universidade.”
Avaliações internacionais, como o
Pisa, também mostram o Brasil entre as piores colocações em Matemática, com
desempenho pior do que em Leitura. Em 2019, o ensino médio teve alta de 0,4 no
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), passando de 3,8 para 4,2,
mas ainda abaixo da meta estipulada pelo governo.
Desvinculação de recursos da
educação
Diversas entidades, educadores e
congressistas têm se posicionado contra a relatório do senador Marcio Bittar
(MDB-AC) da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) emergencial, que tem
medidas para destravar uma nova rodada do auxílio emergencial. O texto, apresentado
nesta terça-feira, pede a desvinculação de gastos com saúde e educação.
O mínimo atualmente é de 25% das
receitas com impostos para Estados e municípios. Na União, o piso era de 18%
até 2017, quando o valor passou a ser atualizado pela inflação. Defensores da
medida afirmam que a mudança permitiria aos gestores definirem prioridades para
o uso da verba em cada município ou Estado.
Para o conselho de secretários
estaduais de educação (Consed), a medida se trata de “golpe no financiamento”
da educação, que mesmo com aumento de recursos ao longo dos últimos anos ainda
está longe de atingir o objetivo desejado no País. Em nota, o Consed disse que
“muito ainda há que se investir na manutenção e desenvolvimento do ensino,
especialmente na educação básica pública, para que se alcancem patamares
satisfatórios de qualidade”, assim como mostram os resultados do Saeb.
“Em um momento em que os entes
federados discutem o processo de reabertura das escolas públicas e implementam
os necessários protocolos de segurança sanitária, é impensável propor
alterações nesses percentuais”, afirmou, em nota, o presidente da união dos
secretários municipais (Undime), Luiz Miguel Garcia.
O movimento Todos pela Educação
também chamou atenção para o fato de que, entre 2007 e 2017, o valor por aluno
por ano no ensino fundamental brasileiro subiu de cerca de R$ 3 mil para cerca
de R$ 6 mil por causa da vinculação de recursos e do Fundeb. E que a PEC ameaça
ainda o novo Fundeb aprovado no Congresso no fim do ano passado, já que a União
leva em conta o que os municípios e Estados investem para fazer a
complementação de recursos. “A desvinculação não pode ser aprovada de forma
aligeirada e oportunista no contexto da pandemia”, diz a nota do Todos.
*AE
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