Encontro pela Educação Selo
Unicef reuniu profissionais da educação para fortalecer politicas públicas para
crianças. (Foto: Thais
Mesquita/OPOVO)(foto: Thais Mesquita) |
O abandono escolar se tornou uma
das principais preocupações dos dirigentes da educação durante a pandemia de
Covid-19, que obrigou escolas de todo o Brasil a adotarem modelos remotos de
forma rápida e pouco planejada. Em encontro promovido pelo Fundo das Nações
Unidas para a Infância (Unicef), em Fortaleza, representantes de 179 municípios
do Ceará que participam da iniciativa Selo Unicef se reuniram para discutir
estratégias sobre como trazer de volta aqueles alunos que abandonaram a escola.
Em 2019, 15.102 alunos das redes
municipal (excluindo Fortaleza) e estadual abandonaram a escola, segundo dados
da plataforma da Busca Ativa Escolar do Selo Unicef. A instituição tem como
base os dados do Censo Escolar de 2019, divulgado em 2020. Os censos dos anos
de pandemia não são considerados devido a uma subnotificação de dados de
evasão, o que não representa a situação atual do estado, conforme o Unicef.
Diante deste cenário, discussões
entre os municípios e o Unicef resultaram em uma meta de conseguir o retorno de
pelo menos 40% desses estudantes para a escola. Desde então, segundo Rui
Aguiar, chefe do escritório do Unicef em Fortaleza, cerca de 70 municípios já
bateram a meta e conseguiram reverter o abandono de 3.705 alunos. No entanto,
mais de 11 mil crianças e adolescentes continuam fora da escola no Interior do
Ceará.
“Tem uma série de municípios que
ainda não começaram o trabalho, que ainda não conseguiram rematricular nenhuma
criança. Esses nos preocupam mais”, afirma Rui. As estratégias para atrair
esses alunos de volta são decididas por cada secretaria municipal de educação,
mas o Unicef segue defendendo a busca ativa como forma eficaz de entender o que
levou o estudante a abandonar os estudos e como é possível ajudá-lo a retornar.
Conflitos territoriais e
vulnerabilidades socioeconômicas afastam jovens da escola
Para a especialista em educação
do Unicef, Verônica Bezerra, o risco de abandono cresceu durante a pandemia.
Com isso, a busca ativa por meio do controle da frequência e do contato direto
com os estudantes faltosos deve focar tanto em trazer de volta aqueles alunos
que abandonaram a escola como também cuidar para aqueles que estão matriculados
não desistam.
“Quando a gente faz uma lupa pra
entender o que é que tem afastado essas crianças e adolescentes da escola, em
geral as causas não passam exclusivamente pela educação. Nós temos no fenômeno
das múltiplas violências como um fator muito forte. Também temos um certo
desinteresse dos jovens pela escola, um descrédito que a escola pode ajudá-los
num futuro diferente”, explica.
As causas mencionadas por
Verônica são vistas nas atividades do grupo de busca ativa de Eusébio, na
Região Metropolitana de Fortaleza. Marta Mendes, articuladora do Selo Unicef na
cidade, afirma que houve um “boom” de questões envolvendo a violência durante a
pandemia, o que torna a disputa por territórios e conflitos entre facções
criminosas um dos principais motivos dos alunos deixarem de ir à escola.
Em 2019, 600 alunos abandonaram
os estudos em Eusébio. “Dentro da secretaria tem um grupo e quando ele detecta
que aquela criança ou adolescente não está comparecendo à escola, esse grupo é
acionado e é feita toda uma mobilização, uma visita tanto na escola como na
residência do aluno”, afirma Marta. Com a busca ativa, 200 alunos que tinham
saído da escola foram matriculados novamente.
O desafio continua com aqueles
estudantes que abandonaram a escola em 2021, cerca de 432. Até julho de 2022,
80 deles voltaram, segundo Norberio Terceiro, supervisor institucional da busca
ativa escolar de Eusébio. Para Marta, o diferencial para ter êxito na busca
ativa é o envolvimento de agentes da saúde e conselho tutelar que fazem parte
do comitê intersetorial organizado no município.
A ideia é compartilhada por
Verônica Bezerra. “A gente percebe que quando o arranjo intersetorial se
materializa no município, quando há a compreensão de que é a mesma criança para
a educação, para a saúde, e para a assistência, esse atendimento integral e
integrado é o maior fator de sucesso. Em qualquer resultado positivo, esse
aspecto é central”, diz.
*(Portal O POVO)
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