Gabriela Biló/Folhapress |
O ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Alexandre de Moraes deu 48 horas para que o ministro da Justiça,
Anderson Torres, e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB),
detalhem todas as medidas adotadas por forças de segurança para conter atos de
vandalismo protagonizados por bolsonaristas em Brasília, na segunda-feira (12).
A medida foi apontada pelo
magistrado em resposta a uma manifestação do senador Randolfe Rodrigues
(Rede-AP), que solicitou a investigação das circunstâncias em que os atos de
violência ocorreram.
Na ocasião, os manifestantes tentaram
invadir a sede da Polícia Federal depois que o líder bolsonarista José Acácio
Serere Xavante foi preso temporariamente. Repelidos pela polícia, eles
queimaram ônibus e carros e arremessaram pedras em policiais, que responderam
com bombas de efeito moral. “Os fatos noticiados pelo parlamentar ocorreram no
contexto dos atos antidemocráticos, nos quais grupos financiados por
empresários (a serem identificados) insatisfeitos com o legítimo resultado do
pleito, com violência e grave ameaça às pessoas, passaram a bloquear o tráfego
em diversas rodovias do país e a abusar do direito de reunião nos arredores de
quartéis militares, com o intuito de abolirem o Estado democrático de Direito,
pleiteando um golpe militar e o retorno da ditadura”, diz Moraes na decisão.
Nesta quarta-feira (14), o
ministro do Supremo juntou a solicitação de Randolfe Rodrigues a uma outra
petição em razão de sua “pertinência”. “As condutas noticiadas, portanto, fazem
parte de atos mais abrangentes, investigados nesta Suprema Corte”, destaca
Moraes, que é o relator do inquérito das fake news.
Após receber críticas, o
governador Ibaneis Rocha afirmou na terça-feira (13) que “a todo momento” sua
gestão manteve contato com o Ministério da Justiça e o governo de transição.
Ele defendeu a atuação da polícia. “As forças policiais do DF agiram com rapidez
e da maneira mais adequada possível”, disse Ibaneis, que prometeu punição aos
que participaram de atos de vandalismo.
Como polícia ostensiva, era
função da PM abordar e prender os envolvidos nas depredações, que foram
amplamente filmadas e monitoradas por câmeras. A presidente do PT, Gleisi
Hoffmann, chegou a abordar a questão das prisões e afirmou em postagem em suas
redes sociais ser “muito estranho” ninguém ter sido detido. Ela afirmou ainda
que o presidente Jair Bolsonaro (PL) é “cúmplice” do que ocorreu.
Como mostrou a Folha de S.Paulo,
a equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez chegar ao
Governo do Distrito Federal o incômodo gerado com a atuação da Polícia Militar
na contenção dos atos de violência que ocorreram na capital federal. Segundo
relatos de pessoas do entorno de Lula, o maior descontentamento é com a chefia
do departamento de operações da PM do DF.
Para os petistas, a corporação
deveria ter atuado de maneira mais rígida contra os apoiadores de Jair
Bolsonaro diante de episódios de violência horas após a diplomação de Lula pelo
TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O ministro Alexandre de Moraes afirmou nesta
quarta-feira que “ainda tem muita gente para prender e muita multa para
aplicar” em relação a atos antidemocráticos e disseminação de fake news.
Na segunda-feira, antes dos atos
de vandalismo ocorrerem em Brasília, o magistrado prometeu responsabilizar
grupos que promovem atos antidemocráticos e discurso de ódio. A fala foi feita
durante a cerimônia de diplomação de Lula.
Os atos antidemocráticos que
pedem um golpe militar e escalam em casos de violência pelo país têm sido
atiçados por Bolsonaro desde a sua derrota para o petista Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) no segundo turno das eleições. Na semana da derrota, em uma rápida
declaração, ele disse defender os atos, tendo ali apenas condenado os bloqueios
de estradas por seus apoiadores. Já no final da semana passada quebrou um
silêncio de 40 dias com um discurso dúbio que também atiçou seus apoiadores.
O discurso mais recente foi
salpicado de referências às Forças Armadas, repetiu a retórica de campanha e
estimulou indiretamente manifestações antidemocráticas dos seguidores que
contestam a vitória do petista em uma inédita derrota para um presidente que
disputava a reeleição no país.
*(Mônica Bergamo/Folhapress)
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